Dados do Boletim Epidemiológico n°18 do Ministério da Saúde apontam que a região Norte do país apresenta a taxa mais elevada de casos de câncer de colo do útero (CCU) causados pelo HPV (papilomavírus humano), o que representa 26,24 a cada 100 mil mulheres. Em seguida, em ordem decrescente, encontram-se a região Nordeste (16,10), a região Centro-Oeste (12,35), a região Sul (12,60) e o Sudeste (8,61).
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), em 2019, 6.596 mulheres foram a óbito por CCU e para cada ano do triênio 2020-2022, o número esperado de novos casos é de 16.590. Dentre as consequências da infecção pelo HPV, o câncer de colo do útero (CCU) surge em 99% dos casos.
Entretanto, nem toda mulher que tem HPV desenvolve o câncer do colo uterino, pois existem mais de 100 tipos diferentes, sendo 15 deles conhecidos por causar o câncer cervical, como explica a cirurgiã oncológica do Instituto Nacional de Câncer (INCA), Luísa Maciel.
“Os vírus HPV’s foram classificados como de baixo ou alto risco de causar o câncer cervical. Os tipos 6 e 11 causam cerca de 90% das verrugas genitais, esses tipos são considerados de baixo risco porque eles não causam câncer do colo uterino. Os tipos 16 e 18 são os tipos de alto risco que causam a maioria dos casos de câncer cervical, em torno de 70%. Existem outros sorotipos do vírus HPV como o 31 e 33, entre outros, que também são de alto risco e podem causar o câncer do colo uterino.”
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No Brasil, o rastreamento do câncer de colo do útero se faz predominantemente pelo exame preventivo, conhecido como Papanicolau, oferecido de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde. No município de Boa Vista, em Roraima, a Secretaria Municipal de Saúde trabalha com o público alvo estabelecido pelo Ministério da Saúde, mulheres de 25 a 64 anos. A técnica de saúde da mulher da Secretaria Municipal de Saúde de Boa Vista (RR), Gabrielle Almeida Rodrigues, explica que após a identificação da doença em mulheres, as pacientes passam a ser acompanhadas pelo estado.
“Quando detectamos alterações dos exames citopatológicos, nós encaminhamos para o centro de referência estadual que estará fazendo os exames para verificar se essa mulher realmente possui alguma lesão cancerígena. A partir daí, o acompanhamento fica pelo Centro de Referência Estadual e, se confirmado, a paciente vai para a Unidade de Tratamento de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) do estado.”
Com a pandemia do coronavírus, as ações de proteção contra o HPV no município tiveram que ser adaptadas. “Nós tínhamos parceria junto com as escolas para a busca dos adolescentes na faixa etária preconizada, como agora as escolas estão com as aulas remotas, o trabalho acontece dentro das unidades básicas”, afirma.
Diagnosticada com câncer do colo do útero, Simone Rocha mora em Macapá (AP) e diz que durante a atual pandemia o município não tem oferecido suporte para as pacientes com câncer e, por isso, terá que realizar o tratamento em outro estado, em Porto Velho (RO).
“Fui encaminhada para a Unacon do meu estado para realizar o tratamento com urgência, mas no dia da consulta o médico não me atendeu. Além disso, tem certos exames que preciso fazer e não tem aqui. Precisei comprar alguns remédios e até agulhas para que pudessem aplicar a medicação em mim. Quem tem câncer precisa correr contra o tempo. Estava apenas com o câncer no colo do útero, mas com a demora do tratamento ele espalhou para a bexiga e intestino.”
Até o fechamento desta reportagem a Secretaria de Estado de Saúde do Amapá não respondeu aos nossos questionamentos.
Com relação ao alto índice de câncer de colo de útero na região Norte, em nota enviada à reportagem, o Ministério da saúde informou que “atua fortemente na disseminação de informações sobre vacinação em seus meios de comunicação para esclarecer dúvidas, interação nas redes sociais e discussão com as Sociedades Científicas envolvidas com o tema, visando sensibilizar os médicos filiados e suas equipes. Além disso, atua com algumas parcerias, como a do Ministério da Educação com o Programa Saúde na Escola, que realiza o fortalecimento das ações de promoção, prevenção e atenção à saúde, informando professores, alunos e suas famílias sobre os riscos da infecção HPV, bem como a relevância da vacinação contra esta doença”.
Como se prevenir contra o HPV?
A cirurgiã oncológica do INCA, Luísa Maciel, explica que os preservativos auxiliam na prevenção contra o HPV, mas que não são totalmente eficazes. “Embora os preservativos sejam uma forma importante de prevenir a maioria das transmissões sexualmente transmissíveis, eles não oferecem uma proteção completa contra a infecção do HPV porque não cobrem toda a genital exposta. O risco da exposição a esse vírus aumenta de acordo com o número de parceiros sexuais que você tem. Fazer sexo com alguém que já teve muitos outros parceiros no passado também aumenta o risco.”
A melhor maneira de se proteger contra o HPV é tomar a vacina contra o vírus. A eficácia do imunizante é maior em pessoas que ainda não apresentaram contato ou infecção causada pelo HPV e, por isso, a importância de receber a injeção antes do início das atividades sexuais. No Brasil a vacinação é gratuita em meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos.
Considerando a vacinação do grupo de adolescentes, o Ministério da Saúde informou que realizou, no período de 2014 a 2019, duas campanhas anuais para veiculação nacional em mídias sociais e impressa, visando divulgar a importância da vacinação contra o HPV. Atualmente, com as escolas fechadas devido a pandemia do coronavírus, não existe campanha de vacinação contra o vírus, entretanto, o público pode receber a vacina em qualquer momento do ano, de forma gratuita, em qualquer unidade de saúde ou nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) de todo o país.
Desde 2015 o Ministério da Saúde disponibiliza a vacina quadrivalente contra HPV também para pessoas imunossuprimidas (PVHIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos) de 9 a 26 anos, o que constitui a principal medida de prevenção do câncer do colo do útero.
Em março deste ano foi instituída a ampliação da faixa etária da vacina HPV para mulheres imunossuprimidas até 45 anos. A medida segue o exemplo de outros países que adotaram essa estratégia e tiveram bons resultados. A ampliação da idade vacinal não inclui homens com imunossupressão ou que vivem com HIV, visto que, segundo as indicações da bula da vacina disponível no Sistema Único de Saúde, a idade para uso do sexo masculino é de 26 anos.
Vacinas contra o HPV
Existem três vacinas disponíveis no mercado para prevenir a infecção contra os tipos de HPV que são causadores do câncer do colo uterino. A vacina bivalente contra os tipos 16 e 18 da doença, a tetravalente contra HPV 6, 11, 16 e 18 e a nonavalente contra nove subtipos diferentes do vírus.
Segundo ressaltou o Ministério da Saúde, é necessário completar o esquema de duas doses, com um intervalo mínimo de seis meses entre elas, pois a resposta imunológica se mostrou mais efetiva em situações onde este intervalo é respeitado. Recomenda-se ainda que o intervalo entre as doses contra o HPV não seja superior a 12-15 meses, para que o esquema vacinal seja completado o mais prontamente, visando garantir uma elevada produção de anticorpos e a efetividade da vacinação.
Em caso de atraso no esquema de doses, mesmo ultrapassando o intervalo recomendado (12-15 meses), é necessário comparecer às salas de vacinação e se imunizar, não havendo a necessidade de reiniciar o programa vacinal. Em 2020 foram aplicadas 1.773.577,851 doses contra o HPV no Brasil. Confira abaixo a quantidade total de vacinas aplicadas no país até o momento.
1ª dose feminino
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2ª dose feminino
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1ª dose masculino
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2ª dose masculino
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2020
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2021
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2020
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2021
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2020
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2021
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2020
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2021
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1.402.709
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338.536
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1.168.142
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303.624
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975.473
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219.962
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795.531
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196.044
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Maciel destaca a importância da vacinação para que a doença não evolua. “Todas as vacinas são seguras e reduzem significativamente o número de mulheres que podem desenvolver lesões precursoras do câncer do colo uterino, além da própria lesão invasora cervical e também contra verrugas, câncer de vagina, vulva, ânus e cavidade oral.”
De acordo com a médica, ainda não se sabe exatamente por quanto tempo a vacina é eficaz contra a infecção do HPV, mas, a princípio, ela não perde a capacidade de proteção com o tempo.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o HPV é a infecção sexualmente transmissível mais comum. Estima-se que em torno de 80% dos adultos sexualmente ativos já tenham, ao menos uma vez, entrado em contato com o vírus antes. A maioria desses indivíduos é infectado pela primeira vez com algum tipo de HPV ou mais um tipo entre os 15 e 25 anos.
Fonte:
Brasil 61